Sobre viver com arrependimento e 3 dicas para lidar com este monstro

Arrependimento foi algo com que mal tive de lidar porque desenvolvi um método para o evitar por completo.

98 % das minhas decisões são impulsivas. Se no momento aquela me parece a melhor opção, é aquela opção que vou escolher sem pensar propriamente nos prós e contras. Parece a receita para o desastre mas a verdade é que escolher impulsivamente reduziu sempre drasticamente a frequência dos meus arrependimentos, como se não pudesse propriamente arrepender-me de uma decisão que mal tomei.

Este método funciona na perfeição... se forem pessoas egocêntricas ou sem família/outros apêndices que tenham de ter em conta no momento da tomada de decisões que podem mudar drasticamente a vossa vida. Nestes casos, vejo-me obrigada a pensar sobre como a minha decisão vai afectar a vida de quem me rodeia. Uma coisa leva à outra, acabo a pensar nos prós e contras e lá se vai a impulsividade da decisão e com ela, a minha desculpa para não sofrer com o arrependimento.

Foi numa alhada dessas que me meti há um ano atrás. Lidar com arrependimento não era algo a que estivesse habituada mas infelizmente, passei esse ano inteiro - e na verdade, ainda estou - arrependida de uma escolha determinante na minha vida. Para mim, foi sufocante ter de aceitar que a minha decisão me tinha colocado na situação que agora me tirava a vontade de sair da cama. Saber que tinha tido na mão um futuro mais promissor e que o tinhado deixado, simplesmente, passar entre os dedos levou-me a acreditar que era uma grande incompetente nesta coisa que é a vida.

Escusado será dizer que esse sentimento de arrependimento me impediu de várias coisas - deixei de ser uma pessoa descontraída para passar a incorporar um humano permanentemente insatisfeito, deixei de conseguir acordar cedo para passar a mostrar o dedo do meio à luz matinal e deixei mesmo de me empenhar tanto como gosto no meu trabalho, arrastando a minha incompetência emocional para outros campos.
Durante muito tempo justifiquei este comportamente com simples falta de motivação e não quis acreditar que a minha até então poderosa mente estivesse a ser virtualmente controlada pela força alienígena das emoções. Eventualmente, tive de aceitar a minha... susceptibilidade? Por muito que queiramos, não somos Bimby's da vida e infelizmente, más circunstâncias podem ser um grandessíssimo pontapé no rabo da nossa força de vontade. Para pessoas que, como eu, acreditam que todo o nosso sucesso depende exclusivamente da nossa dedicação, não é fácil aceitar que um factor externo possa influenciar tão negativamente a nossa capacidade de enfrentar o mundo... Mas é essencial.

Admitir que este arrependimento me estava a arrastar para a lama - quase literalmente - foi o primeiro passo para tomar uma posição activa perante ele e desde aí que tenho lutado todos os dias contra este monstro. Com o tempo, fui aprendendo a conviver pacificamente com a fera e a incluí-la de forma mais (ou menos) positiva na minha vida.

Top Mango, calças da Stradivarius e sapatos da Seaside. Os anéis são da Stone by Stone. Claro que ainda não sou a mestre da aceitação mas durante esta (demasiado) prolongada vivência com o arrependimento, tive de escolher entre aprender a lidar este monstrinho ou bater diariamente com a cabeça nas paredes e adormecer embalada pelo meu próprio choro.  Como dispenso traumatismos, li livros, ouvi podcasts e vi vídeos que prometiam ensinar a let go dos arrependimentos. De entre  as milhentas dicas - muitas inúteis - guardei as 3 que mais sentido fizeram para mim:
1. Arranja uma distracção.  Há uma grande probabilidade de o arrependimento surgir ao experienciarmos a nova e aterrorizante realidade que a nossa decisão introduziu na nossa vida e por isso, uma boa forma de "fugir" ao arrependimento é arranjar uma distracção que nos retire dessa realidade. Não é uma solução permanente mas essas distrações oferecem alguns momentos de bem-estar diários que podem melhorar drasticamente o nosso mood. Para mim, dedicar-me ao blog funciona às mil maravilhas.
2. Saber o que não queres é tão ou mais importante do que saber o que queres.  E não há como saber o que não queremos sem antes o termos. Ou ter o que não queremos sem nos arrependermos. Ou seja, para saber o que não queremos, é preciso enfrentar o monstro. Faz sentido? Se há uma coisa boa nos arrependimentos é a sua capacidade de esfregar na nossa cara exactamente aquilo que não queremos para a nossa vida. No fundo, arrependimentos são lições de vida árduas mas eficazes e como tal, devem ser encarados como essenciais ao nosso crescimento e aprendizagem. Reconhecer a importância dos arrependimentos é um passo importante para aprender a conviver pacificamente com eles. 
3. Tens de te perdoar.  Esta é, sem dúvida, a dica mais importante e a mais difícil de implementar - e falo por mim, que ainda não consegui fazê-lo em pleno. No fim, não deixa de ser verdade que estamos nesta situação de terror por nossa causa e que se tivessemos sido mais emocionalmente inteligentes, poderíamos ter desviado o tiro. Ainda assim, é preciso que nos desculpemos por isso e que percebamos que fizemos o nosso melhor tendo em conta o que sabíamos naquele derradeiro momento que arruinou a nossa vida (exagero).  Isto de não ser um robô tem as suas desvantagens - seria tudo mais fácil se funcionasse com programas predefinidos e manual de troubleshooting. No entanto, como humanos imperfeitos, vamos continuar a cometer erros e a cair diariamente em esparrelas que apresentam, à partida, grande probabilidade de acabar em arrependimento. Arrependimentos são inevitáveis e o melhor que podemos fazer por nós (e pela sanidade mental daqueles que aturam as nossas crises existenciais) é aprender a sobreviver arrependidos das nossas decisões.  Por fim, deixo-vos alguns dos meus materiais preferidos e que me têm acompanhado durante estes últimos tempos: Dream Life Series by Lavendaire

Magic Lessons by Elizabeth Gilbert 

Buddha's Brain by Dr. Rick Hanson

E vocês, como é que lidam com arrependimentos? Como é que esse monstro afecta as vossas vidas e que truques utilizam para domar a fera?