Porque odeio vegans e porque nunca quis ser vegan... até agora

Vou desde já deixar claro que o título é click bait - eu não odeio vegans. 

Não tenho nada contra vegans que comem comida vegan, que respeitam os direitos dos animais e que têm uma consciência ambiental superior. Aliás, como é que eu poderia odiá-los? O que é que há de mal em ser tão consciente e altruísta? 

Bem, o que há de mal é sê-lo como forma de auto-promoção pública. Durante muito tempo odiei a comunidade vegan - em especial, a comunidade online - que se vangloriava do facto de ser vegan, usava a etiqueta vegan no meio da testa e crucificava quem não o fosse, excluindo todos os outros seres inferiores e cujo instinto animal era tão primitivo que não eram capazes de abdicar de um bife em prol do bem-estar de criaturas inocentes. Para mim, soava-me bastante contraditório e até suspeito que alguém com tanto respeito pelos direitos dos animais fosse incapaz de respeitar os direitos de um humano não-vegan, percebem? Soava-me a marosca publicitária.

Durante todo esse tempo, abominei a ideia de algum dia me meter na embrulhada que é a religião do veganismo, por muito que compreendesse os seus motivos e achasse a sua causa nobre. E era nesse ponto que os vegans razoáveis com quem conversava ficavam confusos. Se eu compreendia a causa, como é que podia comer animais sem peso na consciencia? Primeiro, porque não concordava - e não concordo - com todas as razões por detrás do veganismo e segundo... bem, porque os vegans me irritavam. Pronto. Admito.
Felizmente, as coisas mudaram. Os ânimos acalmaram e a comunidade vegan foi sofrendo uma limpeza à medida que os vegans das aparências desistiam da causa - os 40 mil seguidores que tinham ganho não eram motivo suficiente para continuar a dizer que não a um bom entrecôte - e os verdadeiros vegans, já com a mensagem passada, se abstinham de esfregar nas redes sociais, a cada 34 segundos, o quão consciencioso é o seu estilo de vida.

E eu, menos sufocada em conteúdo vegan, tomei a liberdade de fazer a minha própria pesquisa sobre o assunto e aprender mais sobre o estilo de vida através de canais realmente informativos. A juntar a isso o aumento da minha consciência ambiental - e falo disso aqui - e de repente, temos uma Mara a ponderar uma mudança de hábitos alimentares. Mas, calma. Não vamos já exaltar os ânimos e festejar a minha conversão ao veganismo que, para infelicidade da Gaia, não está nos meus planos.

O que está nos meus planos e que tenho tenho ponderado de forma cada vez mais séria (e até, implementado) é a diminuição drástica do meu consumo de carne. 

Por vezes, caímos no erro de nos sentirmos inúteis na questão do aquecimento global já que não temos dinheiro para investir num carro elétrico ou adornar a nossa casa de painéis solares e acabamos a esquecer-nos que há algo que podemos mudar facilmente, que constitui uma solução ao nosso alcance e acima de tudo, significativa para a questão do aquecimento global - os nossos hábitos alimentares.

Não quero bombardear este post com números mas a verdade é que:
1. 24 % das emissões de gases com efeito de estufa podem ser atribuídas às nossas escolhas alimentares - tendo em conta aspectos como a utilização de terrreno, o impacte da agricultura e da criação de gado.
2. A criação de gado gera tanta emissão de gases com efeito de estufa como todo o transporte mundial - e sim, estamos a falar de carros, combóios, aviões. Todo.
3. No caso da vaca, diminuir o seu consumo em 90 % - só vaca, ninguém está a querer que passemos a comer lentilhas a todas as refeições - corresponde a um decréscimo de 15 % do contributo para o aquecimento global até 2050, o que equivale à remoção de 1 milhar de milhão de carros das estradas por ano!

E isto é só um cheirinho...

Blusa da Pull&Bear, calças da Springfield e botas da Zara. 

Sinceramente, acho impossível mergulhar nestes conceitos sem sentir uma obrigação moral para com o nosso planeta. Se isso me dá vontade de ser vegan? Claro. Se o vou fazer? Não por agora, não tão cedo.
Mas vou, de certeza, introduzir mais pratos vegans e vegetarianos na minha dieta, maioritariamente como substituição de pratos de carne de vaca e porco. Não é uma mudança radical nem será o meu contributo singular a evitar que a temperatura global suba nos próximos 20 anos mas esta história de mudar comportamentos tem de começar por algum lado.

A utopia de que todos deixaremos de comer carne, peixe e lacticínios está, na minha opinião, a anos luz da nossa realidade e acredito que sugerir esta mudança à maioria da população mundial como a única forma de não arruinar o planeta pode aterrorizá-las e afastá-las, ainda mais, da causa.
Se for mais fácil aceitar, como é para mim, que temos de reduzir e não abdicar da carne, talvez mais pessoas estejam disponíveis a fazer essa pequena mudança e todas juntas contribuam significatiavemente para o shift global. Tipo, grão a grão, enche a galinho o papo. Pelo menos, é nisso que acredito.

Mais números e informação séria virão, em posts mais detalhados, mas por aqui fica - em registo público - o meu compromisso com a diminuição do consumo de carne. Entretanto, fica também um vídeo de teaser, bem mais interessante que a minha conversa, sobre o impacte da nossa alimentação nas emissões de gases com efeito de estufa.
E vocês? Já pensaram mudar os vossos hábitos alimentares? Porquê? E como foi o processo?