Roupa velha ou moda sustentável?

Roupa velha é o que se come no dia de Natal e o que eu visto durante a semana.

A semana passada tomei a original decisão de registar, em modo de vídeo, os conjuntos que vesti diariamente. Ao rever e editar as filmagens, acabei incomodada com a astronómica quantidade de vezes que me ouvi a repetir a frase “que tenho há anos”. Aparentemente, todos os dias fui capaz de desencantar do meu armário uma peça de roupa "que tenho há anos" e que vesti, de livre e espontânea vontade. Parece coisa de slow living e minimalismo, isto de dar verdadeiro uso às peças que compramos e de as vestirmos vezes sem conta mas no meu caso, foi mesmo sem querer.

A verdade é que a maior parte das peças de roupa que visto têm uma idade avançada. Primeiro, porque são peças das quais gosto demasiado para pensar em algum dia desfazer-me delas. Segundo, porque gosto verdadeiramente delas e se fosse socialmente aceite, vestí-las-ia vários dias seguidos. Terceiro, porque não tenho roupa nova?
*som de gira discos a parar* Esperem aí. Não tenho roupa nova? Mas eu compro roupa nova. Quando o rei faz anos, sim... mas compro.

Estou a vestir umas calças da H&M. A camisola é vintage, as botas são da Mango e a mochila, da Zara.

Para já, gostaria de deixar claro que isto que acabaram de ler é uma reprodução fiel e integral do diálogo interno que estabeleci a meio das minhas tarefas de analista de controlo de qualidade.
Dei por mim a matutar nas razões pelas quais a roupa que comprei recentemente parece ter evaporado do meu roupeiro e cheguei a uma conclusão muito simples - grande parte dessa roupa ou não existe mesmo, ou está mais perto de virar pano de limpar o pó do que de ser incorporada num #ootd.
A que não existe, está algures numa lixeira a contribuir para a poluição do solo e cursos de água não porque eu tenha decidido que já não gosto dela. Não porque eu tenha querido substituí-la. Mas sim, porque dado o seu avançado estado de decomposição, nem doar foi opção. 

Fiz as contas e de há uns dois anos para cá, a durabilidade da roupa que comprei diminui drasticamente sem que eu tenha alterado os meus hábitos de compra. Continuo a comprar nas mesmas lojas - de fast fashion, claro - e a avaliar a qualidade das peças mas chamando a coisa pelos nomes, nem a roupa da Zara é o que era. Honestamente, tenho roupa da Zara Kids dos meus tempos de pirralha em melhores condições do que peças que comprei nos últimos saldos. E nem vamos falar da roupa que a minha mãe vestia nos seus gloriosos 20 anos - como a camisola que estou a usar nestas fotos - e que desenterrei, recentemente, do seu roupeiro. Sem querer revelar a idade da minha mãe, posso apenas dizer que esta camisola é mais velha que eu e ainda assim, consegue ter melhor aspecto do que algumas blusas em exposição na loja.

Mas nem tudo é mau. Felizmente, a sustentabilidade está na moda e as marcas de slow fashion estão a surgir no instagram com mais frequência do que as influencers promotoras da Prozis. Por isso e porque quero que as minhas peças de roupa durem mais do que 7 lavagens, vou tirar o rabiosque da Zara e começar a investir o meu ordenado de estagiária em marcas de moda sustentável. E comer uma sopinha a todas as refeições. Ou quem sabe, vender um rim.

Também têm peças de roupa idosas que usam religiosamente e que parecem acabadinhas de comprar? Têm notado este decréscimo de qualidade da roupa das típicas lojas de fast fashion?

Já agora e se estiverem com tempo (e paciência) podem ver os ditos cujos dos outfits no vídeo desta semana.