Cuidados depois do sol e a mentira dos pós-solares?

Agora que já falámos dos produtos essenciais durante a exposição solar, está na altura de nos focarmos na beleza depois do sol

E sim, sei que já estamos em Setembro mas o bom tempo teima (felizmente) em manter-se e nenhuma de nós quer mandar fora, para já, o bronzeado que passou o verão a construir. Certo?
Vamos aos factos, começando por deixar claro que nenhuma loção milagrosa ou after sun-de-levar-à-falência vai contribuir para prolongar a vossa tez bronzeada. 

O bronzeado é uma consequência da produção de melanina, melanina essa que é produzida pelas próprias células para aumentar a sua protecção contra os danos dos raios UV. Se vocês deixarem subitamente de andar ao sol - por exemplo, durante o inverno - as vossas células não se vão dar ao trabalho de produzir bronzeado exclusivamente em prol da vossa beleza. As células têm mais que fazer da vida do que preocupar-se com os vossos caprichos. 

Também nenhum after sun ou mezinha de aloe vera vai reverter os danos causados pelo sol à vossa pele (e falámos sobre eles aqui). Por muito que a cor escarlate da vossa pele vos assuste e o creme pós-solar diminuia a inflamação, a verdadeira vítima - o vosso ADN - já foi espezinhada e torturada de forma irreversível.  

Por isso, se cometeram o grandioso erro de apanhar um escaldão, tratem de ficar longe de cremes que pouco irão resolver e serão ainda rapidamente absorvidos pela pele assada, entrando na circulação sistémica e espalhando todos os seus compostos possivelmente alergénos pelo vosso corpo. Divertido, ham?

Na foto, sandálias Birkenstock (parecidas) e pós-solar da La-Roche Posay.

Então para que servem os benditos cremes pós-solares?

Boa pergunta. Se nos focarmos na lista de ingredientes da maior parte dos after sun e a compararmos com o correspondente hidratante dito normal, pode até parecer que tudo isto não passa de uma estratégia de marketing. E por vezes, é mesmo.

Os pós-solares - pelo menos, os que conheço - não tencionam, de maneira nenhuma, reverter os danos do sol mas sim tratar e remediar os sintomas da sua exposição e o tratamento dos sintomas é principalmente conseguido através da utilização de ingredientes activos com propriedades anti-inflamatórias e refrescantes.

Então, o pós-solar ideal deveria:

1. Conter ingredientes que amenizam a inflamação da pele

2. Ser menos espesso e menos rico em óleos para impedir a captura do calor que emana da vossa pele e que causa a sensação de desconforto

3. A sua aplicação deve, ao mesmo tempo, resultar numa sensação de frescura imediata como a que é conseguida pela aplicação de aloe vera

Com isto em mente, escolher um bom after sun é tão fácil como ler e interpretar as extensas listas de ingredientes, em letras minúsculas e por vezes difíceis de encontrar nas embalagens das vossas opções. Pois. Vamos lá esmiuçar isto.

A evitar

Álcool. Quando a ideia é re-hidratar a pele, nada poderia ser pior do que utilizar uma loção com álcool no entanto, várias são as marcas que recorrem a este ingrediente para uma sensação de falsa frescura. Ainda que agradável no momento, o álcool só irá contribuir para secar a pele já martirizada. 

Perfumes e alergéneos. Se estes já não são componentes ideiais de cremes de uso diário, piores são como ingredientes de loções para aplicação em peles sensibilizadas pela agressão solar. A possibilidade de a pele já danificada reagir mal aos perfumes e cheirinhos destes cremes é grande e o contacto com eles deve ser evitado.

Óleos. Espessam os cremes e formam uma barreira gordurosa que prende o calor junto à vossa pele. Exactamente o contrário do que procuram. 

Aloe vera em formulação aquosa, o chamado juice. Para que os efeitos benéficos do aloe vera sejam sentidos, é importante que este seja um ingrediente maioritário na formulação. Se o aloe vera é adicionado à mistura em forma líquida  - ou seja, diluído em água - vai acabar demasiado diluído na mistela e não surtir grande efeito.

O que procurar

Glicerina. É um atractor de água natural e vai ajudar a devolver a hidratação à pele, que tanto precisa

Aloe vera em pó. Adionada em pó, vai estar em maior concentração na loção e possivelmente, actuar de forma mais eficaz conferindo uma sensação de frescura 

Anti-inflamatórios. Peles que acabaram fritas e vermelhas - shame on you - estão a sofrer um processo de inflamação pelo que a utilização de um creme com ingredientes activos anti-inflamatórios é bastante benéfico para diminuição da vermelhidão. Nestas formulações podem encontrar-se anti-inflamatórios derivados de plantas como azulene, bisabolo, glycyrrhizin ou extractos de aloe vera.

Anti-oxidantes como as vitaminas A, E e C aplicados topicamente reforçam as defesas da pele contra os danos dos raios UV. 

Mais do que a presença destes ingredientes, é importante ter em conta a ordem com que aparecem. Nunca devemos esquecer que os primeiros ingredientes são os que mais estão presentes na formulação e que quanto mais tarde forem mencionados, menos concentrados estão e consequentemente, menor efeito produzem. O after sun da Garnier por exemplo, tem aloe vera líquida como um dos últimos ingredientes da lista. A Garnier pode afirmar que o produto tem aloe vera, claro, mas estará esse ingrediente em quantidade suficiente para vos confortar a pele?

Se quiserem descobrir os ingredientes maléficos escondidos noutros pós-solares como o da Nivea ou o da Clarins, espreitem o blog da Mestre em Química, Cheryl Woodman.

Usar after sun vale a pena?

Se isso ajuda a prolongar o bronzeado? Não. Se é mais hidratante ou indicado para a pele agredida pelo sol? Nem sempre. Se encontrarem uma formulação que hidrate mais a vossa pele que o hidratante comum e que vos refresque depois de um dia de preguicite aguda ao sol, então vale a pena! Pessoalmente, não dispenso o after sun nos meus cuidados pós-praia, aplicando-o logo depois do meu adorado banho de água fria. Na cara, uso o Posthelios da La Roche-Posay e no corpo, o After Sun da Cien.

Para finalizar, vamos deixar claro que não sou especialista ou formada em cosmética e que tudo o que partilhei é fruto da informação que eu mesma recolhi e interpretei e que podem consultar aqui:

Coleman, W. P. (2010). Handbook of Cosmetic Science and Technology. Dermatologic Surgery (Vol. 36). 

Turner, K. (2017). Is aftersun really necessary? The Telegraph, [online] [Accessed 17 Sep. 2018].

Barr, S. (2018). You've been applying after-sun wrong, according to the experts The Independent [online][Accessed 17 Sep. 2018]

Brackeen, J. (2016). 5 Ways to treat a sunburn. Skin Cancer Foundation [online] [Accessed 17 Sep. 2018]

Narendhirakannan, R. and Hannah, A. (2013) "Oxidative Stress and Skin Cancer: An Overview." Ind J Clin Biochem.