Semana limoncello ou como transformar uma má experiência numa boa

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Arrebatadora e tão doce como intragável - esta viagem podia ser um limoncello

Foi apenas no meu segundo dia de devaneios pelo sul de Itália que provei o tão famoso licor. Arrebatador e tão doce como desagradável, não pude deixar de comparar a ingestão dessa suposta iguaria com o travo desta viagem. Mas antes de mais, vamos esclarecer o básico - sim, fui a Itália. Sim, foi maravilhoso. Sim, irei partilhar tudo, muito em breve.

E já que aqui estamos, aproveito para esclarecer outro pequeno pormenor. Despedi-me do meu primeiro emprego e embarquei esta semana numa nova aventura, completamente diferente e absolutamente assustadora. Boom. Desculpem a bomba.

Assim, e com uma mudança de 360º a acontecer na minha vida, senti-me na obrigação de reflectir sobre os acontecimentos dos últimos dias. Na verdade, e para bem da minha sanidade mental, não tinha outra hipótese senão reflectir, ponderar e relativizar o efeito que estas experiências tiveram em mim.

Como sabotei a minha viagem a Itália
Começar um novo emprego é, por si só, uma experiência stressante - novas rotinas, novas regras, novos colegas... Por muito calmo e optimista que um ser humano possa ser, não acredito que alguém seja capaz de começar um novo emprego na paz do senhor, sem qualquer tipo de variação do seu nível basal de stress.
Sabendo que o stress de new joiner é inevitável, é sensato planear os dias anteriores ao primeiro no novo emprego para que sejam dias descansados, sem stresses desnecessários.

Pessoalmente, achei que a melhor abordagem seria visitar o sul de Itália em 48h, com voo de regresso com escala em Bordeux numa companhia low cost marcado para o dia interior ao meu primeiro no novo emprego. Sensato.

O resultado? Um permanente nível de stress pouco saudável.

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É uma questão de perspectiva
Quando provei pela primeira vez uma golada de limoncello, arrepiei-me. Arrependi-me da quantidade astronómica de licor que ingeri de uma virada assim que as primeiras gotas de álcool me derreteram a faringe.
Respirei fundo e ao fim de uns segundos percebi que limoncello não era assim tão mau. Que o licor era afinal, doce e até algo agradável. Long story short, apesar do primeiro impacte, acabei a ver o meu sorriso reflectido no fundo do copo. Como tudo na vida, o sabor desta experiência dependeu inteiramente da minha perspectiva. Foram precisos alguns segundos de reflexão para absorver a experiência, digeri-la e só assim, apreciá-la.

Ir a Itália estava na minha bucket list há demasiado tempo e há anos que me imaginava nos cenários da Costa Amalfitana. Tinha a viagem planeada mas por causa do novo contrato, precisei de regressar bem mais cedo do que tinha previsto. Infelizmente, nem o sonho de Amalfi chegou para se sobrepor ao pânico que (muitas vezes inconscientemente) senti enquanto lá estive. Pensar que algo podia correr mal na viagem de regresso - perder um transporte, ter um acidente, não chegar a tempo do voo ou vê-lo ser simplesmente, cancelado - impediu-me de aproveitar inteiramente as poucas horas que lá passei. Impediu-me de relaxar por completo e saborear a experiência.

Infelizmente, precisei de assentar os pés em solo português para respirar fundo, reflectir e apreciar finalmente a doçura desta viagem. Só aqui percebi o mal que causei a mim própria nestes dias:
1. Desperdicei as poucas horas que tinha para explorar aquele recanto do Sul da Europa estando triste por ter tão poucas horas para o explorar. Mais, tarde respirei fundo e fiquei grata pelas poucas horas que podiam não ser nenhumas, se não tivesse decidido entrar naquele avião rumo a Nápoles.

2. Fiquei triste por não visitar tudo o que queria. Visitei o que mais queria, mas triste por não poder ver mais. Respirei fundo e apreciei as escolhas que fiz e a possibilidade de um dia voltar para ver o que ficou para segundo plano.

3. Cheguei ao ponto de me irritar sempre que não comi a melhor pizza ou o melhor gelatto, pensando ter desperdiçado uma das poucas refeições que faria em Itália em algo mediano. Respirei fundo e valorizei cada experiência gastronómica, melhor ou pior, que acabou sempre compensada por uma paisagem extraordinária ou uma conversa interessante.

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O que ir a Itália me ensinou
Respirei fundo, mas tarde. Agora, ao respirar fundo, sei que passei ao lado de uma oportunidade de sonho. Enquanto corri para o futuro - para a próxima praia, o próximo miradouro ou a próxima pizza, perdi a possibilidade respirar fundo ali mesmo e viver o presente no sítio mais bonito onde alguma vez estive. De inspirar o ar de Amalfi  e valorizar o que estava a experimentar e a sorte que tinha por estar ali, presente, naquele momento que jamais se iria repetir.

Ainda fico impressionada com a forma como o nosso estado de espírito pode influenciar o modo como experimentamos o mundo e como os nossos pensamentos moldam a maneira como processamos os estímulos que chegam aos nossos órgãos dos sentidos, transformando as sensações em memórias que carregamos com diferentes tons.

Da mesma forma como um mau pensamento pode arruinar a mais bela vista sobre o mar mediterrâneo, uma boa perspectiva pode tornar mágico o beco mais sombrio. Por isso, de nada vale estar debruçado sobre o melhor miradouro se estivermos em apneia, sufocados pela experiência. É necessário respirar fundo e fazê-lo no momento certo. No momento presente.

Já passaram pelo mesmo? Têm dicas para aproveitar o momento e let go das preocupações?

3 comentários:

  1. Acho que todas as experiências são influenciadas pelas nossas emoções. É o defeito do ser humano, deixar-se levar pelas emoções, mesmo quando à sua volta estão todas as coisas que mais quis, se não estiver com a mentalidade correta, acaba por não aproveitar nada.
    Não te preocupes muito, porque tenho a certeza que vais ter outra oportunidade de visitar a Itália!
    Beijinhos

    littlewonderlandxo.blogspot.com

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  2. Acho que o que contas neste post é muito importante, na medida que nos esquecemos tão facilmente de respirar fundo e realmente aproveitar o momento e o que nos rodeia! Por outro lado esse stress e preocupações pré-novo-trabalho é tão compreensível que, se fosse eu nessa situação, provavelmente teria tido uma experiência semelhante. De qualquer forma espero que tudo corra bem! :)

    http://purflefox.blogspot.pt

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  3. O mais importante é aproveitar o momento!
    Espero que tenhas um dia mágico! Koti by Sara & Martin

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Segue em @marapickles